
O sessentão Almodóvar parte para uma tendência que é perceptível em alguns cineastas que , com carreira sólida se encontram na pressão de filmar sempre um filme melhor que o antecessor: a de se expor frente a seus admiradores a partir das metalinguagens de suas obras recentes. Tanto ele quanto Tarantino tentam quase que tocar seu público através de seus personagens. Em ABRAÇOS PARTIDOS ele nos apresenta um diretor de cinema que por 14 anos assume uma outra personalidade a partir do momento que perde sua maior estrela e fica cego.
Sua volta ao melodrama não chega a ser auto-biográfico mas auto-referencial quanto a um encontro a sua maturidade e equilíbrio ao se auto-criticar perante uma comédia , que é rodada dentro do filme que muito lembra suas comédias cinquntistas do começo de carreira, referencia dos anos 80. Ele mesmo quer corrigir os erros das obras do passado, e como ele mesmo diz, ás cegas parece mais justo.(Que em muitos detalhes faz-nos desconfiar que a cegueira é mais uma armadilha do roteiro de Almodovar)
Outra exposição da alma são os dois amantes da cada vez mais musa, Penélope Cruz,imagem dupla de Almodovar perante a paixão: uma exposição corajosa, já que é um ato de confissão de que ele poderia ser um milionário repugnante ou um carinhoso artista alternadamente, e o castigo mais justo quando o amor é perdido é o da tragédia melodramática.E assim , com sua assinatura no extravagante e histórias que parecem complexas e bebem da mesma fonte sexual , acabam desenlaçando-se do jeito mais simples: num diálogo sincero sem mascaras e imagens,como deveria ser a vida quando se coloca tudo a pratos limpos ,longe do passado temperado de ideais e paixões.
Na cena final ,não seria de se estranhar se o próprio Almodovar estivesse no lugar de seu protagonista.(Vai a dica!)
Com isso ABRAÇOS PARTIDOS um filme solene,cheio de nostalgias e redenções de um autor que vai ter sempre algo a dizer...mesmo que pelo silêncio de suas entrelinhas.