quarta-feira, 29 de julho de 2009

O HOMEM É SEXO E ESTOMAGO


Vi o filme ESTOMAGO depois do "indigesto" (perdoem o péssimo trocadilho) THE SPIRIT e para ser franco posso ter me deliciado com essa pequena perola do diretor MARCOS JORGE por estar com "fome de cinema" (outra vez?).
A frase que usei no titulo desse texto é de Amarelo MAnga, de Claudio Assis, mas parece o pontapé para esse que é o grande filme brasileiro do ano passado
A primeira cena em que o cada vez melhor JOÂO MIGUEL conta a sua versão da origem do queijo gorgonzola como quem conta um causo nordestino, já valem todas as cenas que eu tentei rir no SE EU FOSSE VOCE.Essa é a verdadeira comedia brasileira... com todo seu maneirismo e humor negro refinado... calcado na interpretação (e não caricatura)...raizado nas estruturas da ESTETIKA DA FOME sem o Glauber para confundir tudo, na alma do JECA TATU mas com os OFFS de Jorge Furtado. E uma trilha sonora unica...universal... filme de pobre nordestino se fudendo na cidade grande mas sem esteriótipos... Filme de puta e preso, mas sem o olhar euro-americano do cinema-caô do Babenco ou do Barreto.
Tecnico e verdadeiro...usando os problemas do nosso pais como elementos regionais de um problema universal que se baseia em PODER,SEXO e COMIDA.
O mais cativante do filme é a arte que Raimundo(Alecrim)Nonato absorve e se lambuza com todas as informações que o permitem "adentrar", tecnicamente, no mundo dos granfinos, pura metafora do poder de acesso... onde a elite precisa do talento do peão para que seu sistema continue, mas lhe dá apeana o que acha que ele precisa... e quando se colocam em plano de igualdade, a "falta de sutileza" da força desmedidada e ignorante (como um vulcão em erupção adormecido pela vasta série de humilhaçoes)roga por seu lugar de direito. Em qualquer ambiente: Na prisão, no puteiro ou na cozinha italiana,todos querem o "beliche de cima".
São tantos elementos fílmicos que o microcosmo de uma cena as vezes se comunica com o universo do filme e este por sua vez com nosso inconsciente coletivo.
É quase um drama sheakespereamo regado a gorgonzola e goiabada ( o romeu e a julieta é citado como contraste do proprio filme),um filme cuja tema interessa a quem come coxinha ou carpaccio.
É claro que nada funcionaria sem o carisma de João Miguel e sua presença em tela.E dos coadjuvantes que tem uma direção firme, e eficiente.
Ou seja , um dos melhores filmes , BRASILEIROS, com temas BRASILEIROS que vi nos ultimos tempos, com toda poesia popular de Suassuna e a antropofagia de MACUNAIMA.
Fico pensando se no fim não fui eu o devorado pelo filme.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Hmmpf!


É dificil falar de Frank Miller por tudo que sua carreira representou para meu conceito de arte pop, principalmente quando ele consegue cometer um equivoco com THE SPIRIT daqueles comparado a Maradona na seleção Argentina, ou seja : só não destrói sua carreira por que existem verdadeiros fanáticos que lamberiam suas vísceras.
Depois de brincar de estagiário com Robert Rodrigues para montar um novo segmento estético no cinema ,o excelente SIN CITY, ele encarna a heresia em si e inventa um pseudo-tributo a um mestre WILL EISNER , porem impondo sua propria "arte".
No mínimo dois grandes erros podemos destacar: Nem Frank Miller , nem Eisner pertencem ao cinema... Alan Moore com seu xiitismo de tentar impedir que suas obras primas em quadrinhos fossem adaptadas para a telona, no fundo tinha razão... algumas coisas não podem ser maculadas...
O estrago não foi maior pelo fato do estilo ter cansado os olhos do publico, caso tive sido o pioneiro do "cinema fundo verde" ,o caos estaria formado.
A única palavra que consigo pronunciar é um "lamentável", mas meus grunidos (hmmpf!!) expressados durante quase toda a pelicula ( pelo desfile de personagens mais constrangedores dos ultimos tempos,principalmente SCARLETT YOHANSSEN), queriam pronunciar palavras bem mais chulas.
O que me revolta é que Miller, se quisesse ganhar dinheiro com sua estética, por que não fez a sua versão do DEMOLIDOR, para o cinema, ou do próprio RONIN... pra que mexer no desenho dos outros?
Voce deve perguntar: -Mas o filme é de todo ruim?
Respondo: -É!... Até a boa idéia das inserções da morte, tentando aliciar o protagonista são tantas que chegam até ser inoportunas.
Tire os olhos do umbigo,Frank, aprenda que as vezes no cinema você tenha que explorar a arte do homenageado e não tentar convencer de que a sua "arte" superou seus mestres.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O ENVELHECER DIDÁTICO


Usar a si mesmo como intrumento de lição , moralista ou não, sobre a sociedade e seu fetiche na violência é talvez o mais importante desafio de indulgencia que CLINT EASTWOOD tenha feito de sua carreira cinematográfica.
Nos ultimos quatro filmes em que atuou , a sua aparição é de alguem que cai de um prédio em camera lenta, e nos liga do celular de vez em quando para dizer como se sente , como quem observa o mundo de dentro do seu ato que por bem do cinema parece mais longo.
Em GRAND TORINO o ato final parece explicito.O filme que tem um personagem que só caberia a ele fazer (me veio agora TOMMY LEE JONES) gira em torno de sua personagem que caricaturamente ele compõe para os impagaveis dialogos que denotam o choque moral, social e racial de gerações tão distantes.
A gradativa aproximação desses mundos calcado na esperança de que ainda há espaço para gentilezas e benevolencias mesmo que por um tom de ironia e humor negro, é a mais tocante, o personagem Walt percebe que sabe mais sobre a morte do que a vida, e quando quer se intrometer no ritmo dessa nova geração sob a força de que a decepção de que conceitos baseados na vingança não redimem nem trazem paz , usa-se de sua propria vida para dar a lição final: a de que tambem aprendeu.
O encantador carro não serve apenas de elemento de desprendimento mas de que nossa geração tambem tem algo a invejar na velhice: a imponência e a eterna sensação de poder.
Por fim a moral da historia tem como simbologia o próprio EASTWOOD: antigo e revigorado.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

SOCOS EM OFF


Decidir o que deve ou não ser filmado, ou o que deve ou não ser contado como historia, não é tarefa fácil dentro de um universo de dramas envolvendo o macro ou microcosmos humano. Paixão de Cristo é um desafio descomunal por exemplo visto que é um personagem histórico amado por milhoes de pessoas.
E quando a pessoa é odiada por milhões?
Hoje essa abertura da história, permitindo rever impressões de celebridades "malditas" afirma uma tendencia de tolerância universal. Assim como nós não nos queremos mais nos encarar de forma simplista, ou receber uma avaliação objetiva desconsiderando o contexto de nossas vidas ou até as subjetividades de nossas atitudes, somos convidados a olhar com mais cuidado, para as pessoas ditas "referencias", boas ou más.
Esse novo filão popular tem uma de suas faces expressa por FROST/NIXON... um documentario-cine-teatral, da ultima entrevista de Richard Nixon a um desacreditado David Frost, em 79.
O embate tem uma caracterização cenográfica e dramaturgica impressionante, graças a um unico herói: FRANK LANGELLA e seu NIXON que entre uma e outras falas que entregam o carater da personagem de forma humana e sem rodeios, tem no olhar a do homem fadado ao fracasso de seus erros e intimamente entregue a opinião pública sem volta.MICHAEL SHEEN ganha pontos ao entregar alguns brios ao entrevistador Frost, mas leva um chocolate de seu opositor.
O diretor Ron Howard, acostumado a agarrar temas populares se esforça apenas para não atrapalhar o que ja estava pronto, e com uma equipe inspirada pelo tema e concentrada para não escorregar nium filme politicamente chato, fez das acrobacias de filmagem (sem correr riscos) um bom programa.
O que mais empolga (isso Howard já tinha tentado em UMA MENTE BRILHANTE) é que as cenas importantes são calculadas para um ápice, que acontece na cenas em off(brilhantemente expostas como um soco antes do round)e os closes de LANGELA que está muito a vontade na tela.
Tudo enfim respira politica ,desde a entrevista veradeira até as duvidosas indicações ao Oscar. O que faz imaginar se Howard na corrida ao governo não teria um pouco mais de respeito.

REDENÇÂO POR CELEBRAÇÂO


Thomas Vintemberg e LArs Von Trier na decade de 90 estipularam um manifesto cinematográfico chamado DOGMA 95 , estipulando 10 regras de anti-comercialismo, que muito poucos cineastas se renderam pelo indeglutível ( e não intragáveis) resultados que hora e outra apareceriam. A estética do cinema cru estava iniciando e com insistencia algumas obras primas surgiram. Cito principalmente OS IDIOTAS e FESTA DE FAMILIA.
Se este ultimo não tivesse existido , com certeza ñinca haveria se quer pensado o projeto: O CASAMENTO DE RACHEL do quase esquecido JOHNATHAN DEMME.
O promissor diretor de O SILENCIO DOS INOCENTES e FILADELFIA se encaminhava para o limbo das produções medíocres (leia-se:O SEGREDO DE CHARLIE) e corajosamente colocou sua camera em punho e se atirou numa especie de revisitação filtrada do DOGMA,principalmente na estrutura tecnica ( ou na inteligente falta dela)
Apostou em um rostinho bonito (ANNE HATHAWAY) que fosse talentoso e na competencia de Rosemary Dewitt para numa pelica que dura os dois dias de um casamento filmado como se estivessemos dentro dele (inclusive dentro dos problemas pessoais de cada um) e o produto de tudo isso foi estupendo.
Tudo se deve tambem ao fato do roteiro de JENNY LUMET explorar a beleza de um ato ritualistico de entrega de vidas entre duas pessoas , que pode ser simples visualmente mas extremamente rico na composição do todo, de forma por vezes extremista e pieguas, como a realidade as vezes evoca.
Todo tipo de gente e seus monstros se encontram na celebração de pessoas que resolvem modificar o rumo de suas vidas, reparar erros, perdoar-se e encontrar no vinculo da familia que nunca deixaram de ser estranhos.
a trilha sonora que é composta apenas dos musicos convidados que ensaiam pelos cantos fazendo fundo aos dialogos. estão diluidos na trama de forma natural,muito sensivel e discreta, assim como elementos de cena que querem contar o sentimento interior da personagem ( como a cena em que as irmãs se abraçam na provação do vestido de noiva e os alfinetes espetam uma a outra, clara referencia ao dialogo que se sucederia).
E assim... de uma forma surpreendente pla simplicidade , vimos um filme caseiro de luxo mas guiado pelos sentimentos verdadeiros das tragedias , da lavação de roupa suja e o perdão colocados sem edição, sob a chuva redentora da celebração.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Candidato ao Legado


A palavra referência tornou-se no meio crítico um bordão.Todo e qualquer analista que percebe algumas tecnicas chupadas de algum filme ou cacoete filmico de algum autor consagrado chama a obra de homenagem, como se ela não tivesse nenhuma assinatura de quem dirigiu.
Essa injustiça tem sido veiculada , com muita veemencia dos filmes de JOHNNY TO, principalmente EXILADOS.
Para quem começa vendo o filme lembra automaticamente de SERGIO LEONE (bem mais do que Rodriguez tentou em Era uma vez no Mexico) , no ritmo, na musica e principalmente nos silencios.
Quando abre-se o verbo, e as atuações não como sentir uma breve brisa de TARANTINO e por fim estudando com calma o roteiro , GUY RITCHIE é o que vem em mente.
Apesar de paracer que eu tenha colocado o filme numa vala-comum-da-violencia,To tem voz própria o tempo todo... Ele a codifica na metáfora do acerto de contas mitologico dos mafiosos ocidentais e consegue transferir o western-espaguete para o western lamen e por vezes quase esquece-se de que tudo passa numa estranha e ao mesmo tempo familiar , MACAU, ilha no qual serve de catarse coletiva a todos que se "exilam em nome do que lhe é caro"
E mesmo sob um verniz de DEJAVU, é na interpretação e disciplina dos atores em passar o sentimento que a fábula sobre lealdade exige, que TO demonstra ter mão firme, e sob os violões italianados não há como o coração não espremer e lembrar de como o afeto nos faz falta.E disso o ousado diretor não precisou copiar de ninguem, tudo não passa de uma tentativa de candidatar-se a um legado cinematográfico que espera merecedores.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Cruz pesada, Ombros fracos...


É difícil depois de algumas horas (muitas) gastas vendo filmes e em grande parte com olho critico você possuir uma segura opinião do que seja um bom filme...as expectativas são inevitáveis quando as referencias são sedutoras. Empunhando a bandeira de DUVIDA, filme do estreante John Patrick Shanley (Que é dramaturgo e responsável pelo roteiro dessa adaptação de sua própria peça) Estão dois carros alegóricos midiáticos e faraônicos
Num deles os atores Meryl Streep e Phillp Seyour Hoofmann travam um duelo saudável de interpretação onde Streep é apenas convincente e Hoofmann mostra se entrega para um espetaculo artistico primordial. Seu padre Flynn distribui carater na composição e escolhas de tempo da fala e gestos..tornando tão ambíguo quanto obvio,mostrando que o caminho de Hoffmann só tem um nome: perfeição.
Os atores escolhidos para sustentar esses dois gigantes em papéis menores tambem impressiona (tanto Amy Davies quanto Viola Davies) e em alguns momentos até supera, rendendo-lhes merecidas mensoes ao Oscar.
O segundo carro, com cores menos gritantes, mas que pipocam nos jornais é o da curiosidade mórbida da pedofilia no qual a dúvida perante as intenções do Padre Flynn partida de uma dupla de freiras norteam a trama que sustentam bons dialogs e a tensão que o filme exige.
Porem, apesar do argumento cheio de material para um "Grande Filme" , o diretor tropeça em sua propria inexperiencia. As tomadas e soluções fílmicas para transporte do texto teatral em imagens são insuficientes para dar contrapeso aos dialogos preciso e fortes.
A tentativa de ser arte só não deixa de ser evasivo graças ao argumento tem seu proprio eixo de conduta e os atores que apostaram em todas as suas tecnicas para alavancar a camera imprecisa e a decupagem insossa.
O que sobra entender é que nem sempre sabemos da nossa competencia de sustentar o que nós mesmo imaginamos ou que um projeto com materia dramatica tão contundente deve ser executada por mãos adequadas.
A partir de hoje a referencia: Adaptada do teatro é para mim no minimo... duvidosa.

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