sábado, 25 de janeiro de 2014

O POÇO SEM FUNDO DA ALMA ( Análise do filme HER de Spike Jonze)


        Spike Jonze construiu sua carreria sob uma época da necessidade de filmes menos óbvios no mercado. Associado ao roteirista símbolo Charlie Kaufmann essa época surgiram Quero Ser John Malcovich e Adaptação .Dois filmes essenciais na carreira de qualquer um que tenha amor ao cinema. Quando Jonze procurou um caminho que fugisse a sombra do Kaupfmann, Jonze inicialmente não obteve o mesmo brilhio, adaptando um conto infanto-adulto ( De Onde vem os Monstros) .
          Entretanto o pulo do gato vem com a ousadia de escrever o seu próprio roteiro, sob uma ótica urgente: a solidão frente a tecnologia. HER é o filme que lhe rendeu a notoriadade de pensador de sua geração, e engajado no talvez maior problema social cultural causado pela revolução digital.
A de que a humanidade esta pronta a se entregar a segura relação com um aplicativo, as duvidas e estranhezas e mistério da alma humana.
   
O protagonista de HER , vestido por Joaquin Phoenix primoroso conversa com o estonteante programa vivido pela voz de Scarlett Yohanssen ( na melhor de suas atuações , mesmo que só tenha usado a voz no filme inteiro, mas em nenhuma só frase ela deixou de passar uma humanidade estética ) traz a tona a assustadora mensagem de que não estamos preparados a viver conosco, e que o inferno e céu da vida é um viver compartilhado.
          O filme tem um eco com Natureza Selvagem do Sean Pean , que traz o mesmo tema na interrelação natureza-homem, mas enquanto um mostra o dano físico outro mostra o dano emocional de entregar-se a uma relação individual com as sensorial periférico. Um pelo contato , outro pela simbologia. Começando o filme a mostrar o talento do protagonista em ser terceirizador de cartas escritas a mão.
        O filme é basicamente um armazém de ironias, que acabam descambando a óbvia e mais piegas das soluções. Seremos abandonados a nossa reles humanidade, e só ela é capaz de dar a esperança da saciedade , desse poço sem fundo chamado alma.
       Torcemos que Jonze , sobre a boa surpresa de roteirizar praticamente uma tese humana moderna, possa ter bala na agulha pra manter a aura filosofo-cinéfila.

Um comentário:

Erico Baymma disse...

Muito boa análise do filme, que me emocionou sobremaneira. Interessante a jogada de ter feito quase um "filme sessão da tarde" com um par romântico de um homem, solitário e sofrido, com um sistema operacional inteligente. Genial a criação e a evolução da relação, tratando também sobre o tema da Vida Líquida de Bauman, em que o par (S.O.) venha a se embrulhar em diversos relacionamentos paralelos. Um retrato atual e, talvez, futurista. Na verdade, creio que somente é atual por estarmos na era da exposição da intimidade em amplo alcance - e expõe o que Chomski fala sobre a fragilidade das relações com este hiper-alcance pessoal. Esta "multiplicidade" sempre foi encoberta por esta "civilização".
Falei em "sessão da tarde", mas é um comovente desenvolver das emoções de um homem, o que, como disse, fazendo um paralelo a Woody Allen, por seu próprio estilo, jamais este adentraria com tamanha densidade na alma humana solitária do contemporâneo.
Talvez venham outros a tratar do tema, mas este filme é um grande ganho em termos, essencial e principalmente, de lidar com o individual no contemporâneo e vice-versa, como ainda não havia visto, com toda a complexidade desta relação, e com um roteiro especialmente delicado em torno dos sofrimentos humanos. Valeu, companheiro!

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